O Primeiro Bicampeonato
O ano de 1929 foi marcado por eventos significativos tanto no cenário político e econômico quanto no desportivo. Foi nesse ano que se iniciou a Grande Depressão, a maior crise econômica da história dos Estados Unidos e do capitalismo. O evento que desencadeou essa crise foi a quebra da Bolsa de Valores de Nova York, com acionistas desesperados tentando vender suas ações em meio ao colapso financeiro. A crise de 1929 afetou também o Brasil, cuja economia dependia fortemente das exportações de café para os Estados Unidos. Com a queda na demanda e nos preços, o governo brasileiro comprou e queimou toneladas de café para evitar uma desvalorização excessiva.
Além disso, 1929 foi um ano de importantes acontecimentos culturais e esportivos. Em 16 de maio, aconteceu a primeira premiação do Oscar em Hollywood, Los Angeles, Califórnia, celebrando o talento e a inovação na indústria cinematográfica. No mesmo ano, em 14 de abril, foi realizado o primeiro Grande Prêmio de Mônaco, marcando o início de uma das corridas mais prestigiosas do automobilismo mundial.
Em meio a esse cenário global de mudanças e desafios, no Brasil, o futebol continuava a crescer em popularidade e importância. Em Belo Horizonte, o Palestra Itália, buscava consolidar-se como uma das principais forças do futebol mineiro.
A direção do Palestra Itália passou por mudanças, com Antônio Falci, um comerciante e proprietário de uma tradicional casa de materiais de construção, assumindo a presidência do clube para o biênio 1929-1930. Logo ao assumir, Falci, junto com o técnico Matturio Fabbi, começou a planejar o ano. Após uma brilhante campanha em 1928, o Palestra estava determinado a conquistar mais um título. Com um plantel de forte poder ofensivo, Fabbi percebeu a necessidade de equilibrar o time entre defesa e ataque e solicitou a contratação de jogadores conhecidos como "operários em campo".

Falci atendeu ao pedido e trouxe de Nova Lima os jogadores Bento e Pires, os primeiros jogadores negros a vestir a camisa do Palestra. Apesar de oito anos desde a fundação do clube, nunca houve qualquer restrição a jogadores de diferentes etnias. Falci garantiu emprego aos novos atletas em seu comércio para que pudessem se dedicar mais aos jogos.
O ano começou de forma promissora, com uma goleada de 4 a 0 contra o América em um amistoso em 24 de fevereiro, preparando o terreno para o campeonato da cidade.
O Campeonato Mineiro de 1929
O Campeonato Mineiro de 1929 foi a 15ª edição do torneio, disputado em duas fases, turno e returno, no sistema de pontos corridos. Além do Palestra, participaram Alves Nogueira Football Club da cidade de Sabará, América Futebol Clube, Clube Atlético Mineiro, Guarany Foot Ball Club, Sete De Setembro Futebol Clube, Palmeiras Foot Ball Club, de Belo Horizonte, Villa Nova Atlético Clube de Nova Lima e o Santa Cruz Football Club, também de Belo Horizonte, que disputou a Serie B no ano anterior.
O Palestra começou o campeonato de maneira arrasadora. Na estreia, em 5 de maio, venceu o Alves Nogueira por incríveis 12 a 0, com Ninão marcando 5 gols, Bengala 4, Zezinho 2 e Piorra 1.
26 de maio - Guarany 2-7 Palestra Itália / Gols: Farinelli, Brandão; Piorra, Zezinho (3), Bengala, Ninão (2)
02 de Junho - América 4-5 Palestra Itália
Gols: Canhoto, Satyro Taboada (3); Bengala, Armandinho, Ninão (2), Piorra
O América abandonou a partida, protestando contra a marcação de um impedimento e depois recorreu a Liga Mineira, que acatou o pedido da diretoria americana. A partida foi anulada e um novo confronto foi marcado para o dia sete de julho.
Gols: Canhoto, Satyro Taboada (3); Bengala, Armandinho, Ninão (2), Piorra
O América abandonou a partida, protestando contra a marcação de um impedimento e depois recorreu a Liga Mineira, que acatou o pedido da diretoria americana. A partida foi anulada e um novo confronto foi marcado para o dia sete de julho.
No dia 9 de junho de 1929, a torcida do Atlético estava em festa para o primeiro clássico no Estádio Presidente Antônio Carlos, no bairro de Lourdes. O jogo estava marcado para o meio-dia, e o estádio estava lotado, com quase 20 mil pessoas, em sua maioria torcedores do Atlético. A torcida do Palestra também compareceu em peso, e os gritos das duas torcidas criavam uma atmosfera intensa nas arquibancadas.
Os atleticanos ainda estavam engasgados com a perda do título de 1928 e esperavam uma vitória para lavar a alma. O árbitro deu início à partida, e aos 25 minutos do primeiro tempo, o time de Lourdes abriu o placar com um gol, 1 a 0. O Palestra pressionava, mas o gol de empate não vinha até que, aos 40 minutos, o juiz marcou um pênalti para o Palestra. Ninão cobrou com perfeição e empatou a partida, 1 a 1. As equipes foram para o intervalo, e a torcida do Palestra já começava a calar a do Atlético com o empate de Ninão.
No início do segundo tempo, Bengala marcou o gol da virada, fazendo 2 a 1 para o Palestra, deixando a torcida do Atlético incrédula. Eles não podiam acreditar que no primeiro jogo em seu novo estádio, o Palestra estava prestes a vencer. Aos 32 minutos do segundo tempo, Bengala marcou novamente, fechando o placar em 3 a 1 para o Palestra. Antes mesmo do apito final, muitos torcedores do Atlético começaram a deixar o estádio. Aqueles que ficaram brigavam entre si, enquanto do outro lado a torcida do Palestra celebrava e ovacionava os heróis da partida, cantando os nomes dos jogadores.
Os atleticanos ainda estavam engasgados com a perda do título de 1928 e esperavam uma vitória para lavar a alma. O árbitro deu início à partida, e aos 25 minutos do primeiro tempo, o time de Lourdes abriu o placar com um gol, 1 a 0. O Palestra pressionava, mas o gol de empate não vinha até que, aos 40 minutos, o juiz marcou um pênalti para o Palestra. Ninão cobrou com perfeição e empatou a partida, 1 a 1. As equipes foram para o intervalo, e a torcida do Palestra já começava a calar a do Atlético com o empate de Ninão.
No início do segundo tempo, Bengala marcou o gol da virada, fazendo 2 a 1 para o Palestra, deixando a torcida do Atlético incrédula. Eles não podiam acreditar que no primeiro jogo em seu novo estádio, o Palestra estava prestes a vencer. Aos 32 minutos do segundo tempo, Bengala marcou novamente, fechando o placar em 3 a 1 para o Palestra. Antes mesmo do apito final, muitos torcedores do Atlético começaram a deixar o estádio. Aqueles que ficaram brigavam entre si, enquanto do outro lado a torcida do Palestra celebrava e ovacionava os heróis da partida, cantando os nomes dos jogadores.
Esse jogo marcou uma vitória histórica para o Palestra, que mostrou sua força mesmo na casa do adversário, e ficou na memória de todos os presentes como um grande clássico do futebol mineiro.
Nas rodadas seguintes o Palestra seguiu vencendo:
23 de junho - Palestra Itália 3-0 Calafate / Gols: Armandinho, Dunga (2)
30 de junho - Sete de Setembro 3-5 Palestra Itália / Gols: Zé Maria (2), Walter; Zezinho, Ninão (2), Bengala, Armandinho
07 de julho - América 0-3 Palestra Itália* / Gols: Ninão (2), Bengala
*Partida remarcada pela Liga Mineira, a pedido da Diretoria Americana.
*Partida remarcada pela Liga Mineira, a pedido da Diretoria Americana.
28 de julho - Palmeiras 0-8 Palestra Itália / Gols: Carazzo, Ninão (4), Bengala, Zezinho (2)
11 de agosto - Alves Nogueira 0-11 Palestra Itália / Gols: Bengala (2), Carazzo (2), Ninão (3), Nereu, Piorra (2), Zezinho
18 de agosto - Palestra Itália 10-2 Santa Cruz / Gols: Bengala (4), Ninão (3), Carazzo (3); Articum, Walfrido
25 de agosto - Palestra Itália 8-1 Guarany / Gols: Zezinho (3), Ninão (4), Carazzo; Lauro
22 de setembro - Palestra Itália WOx0 Calafate
10 de novembro - Palestra Itália 3-1 América / Gols: Armandinho (2), Ninão; Jorivê
O campeonato continuava e o Palestra estava prestes a conquistar seu primeiro bicampeonato. Precisava apenas de um empate na penúltima rodada, justamente contra o Atlético. O jogo foi realizado no dia 17 de novembro de 1929, no Estádio do Barro Preto, mais uma vez com arquibancadas lotadas. Dessa vez, o Atlético vinha para tentar tirar a invencibilidade do Palestra e ainda sonhava com o título.
O Jornal Minas Geraes considerava este o Maior Clássico do mundo, envolvendo a torcida do Atlético, que era a maioria na capital, e a do Palestra, que contava com muitas mulheres vibrantes. Curiosamente, no futebol, que sempre foi um ambiente machista, a torcida do Palestra era inclusiva e acolhia todos os torcedores, sem preconceitos.
O jogo começou e, aos três minutos do primeiro tempo, Armandinho fez 1 a 0 para o Palestra! Oito minutos depois, Ninão ampliou para 2 a 0. O Atlético diminuiu a diferença, mas Ninão, aos 36 minutos do primeiro tempo, fez o terceiro gol, colocando o placar em 3 a 1. A torcida do Palestra já comemorava o título antecipadamente, enquanto a torcida do Atlético, como no clássico anterior, começava a abandonar as arquibancadas. No segundo tempo, Bengala marcou mais um gol e um gol contra do Atlético aumentou a vantagem do Palestra para 5 a 1. O Atlético ainda marcou mais um gol, mas o placar final foi 5 a 2 para o Pavilhão do Barro Preto. Naquele momento, só havia uma torcida no estádio, gritando "campeão!" O Palestra Itália se sagrou bicampeão mineiro, o primeiro bicampeonato de sua história, apenas oito anos após sua fundação.
Esse jogo foi considerado o maior confronto entre as duas equipes até então. A bola da partida, com o placar de 5 a 2, ficou exposta na sede administrativa do clube, no Barro Preto.
Esse jogo foi considerado o maior confronto entre as duas equipes até então. A bola da partida, com o placar de 5 a 2, ficou exposta na sede administrativa do clube, no Barro Preto.
Ainda faltava uma rodada para o final do campeonato e o Palestra tinha a chance de conquistar o título de forma invicta. No dia 24 de novembro, na última rodada, jogando em casa, o Palestra goleou o Sete de Setembro por 5 a 0. Ninão marcou quatro gols e Carazzo fez um, confirmando o título invicto: 14 jogos, 14 vitórias, 82 gols marcados e apenas 12 sofridos.
Ninão foi o artilheiro do campeonato, com impressionantes 33 gols marcados.
Ninão foi o artilheiro do campeonato, com impressionantes 33 gols marcados.
O Palestra Itália não apenas se tornou bicampeão, mas também entrou para a história com uma campanha perfeita, que ficou marcada na memória de todos os torcedores.

Na conquista do Bicampeonato em 1929, o Palestra tinha um time repleto de craques como Nininho, Ninão, Bengala, Piorra, Carazzo e Geraldo Cantinni, que se destacam na galeria de ídolos imortais do clube.
Geraldo Cantinni
Todo grande time começa por um grande goleiro, e o primeiro goleiro a ter status de ídolo pelo Cruzeiro foi certamente Geraldo Cantinni. Nascido em Belo Horizonte em 1909, ele chegou ao Palestra em 1927 e participou das campanhas dos títulos de 1928, 1929, 1930 e 1940, este último como reserva. Encerrou a carreira em 1942 e foi homenageado pelo clube pelos longos anos defendendo a camisa palestrina.
Geraldo disputou 228 partidas. Fora dos gramados, trabalhava na construção civil e contribuiu nas obras da reforma do Estádio JK em 1945. Nos anos 1930, passou a ser chamado de Geraldo 1, devido ao seu colega de equipe, também goleiro e pedreiro, Geraldo Domingos, que ficou conhecido como Geraldo 2. Falaremos de Geraldo Domingos em outro episódio.
Piorra
Ricardo Pieri Chiari, conhecido como Piorra, recebeu esse apelido por rodar a bola como um pião, sua jogada característica. Um dia, enquanto assistia a um treino do Palestra Itália, faltou um jogador. Ele foi convidado para completar o time e acabou se destacando, rapidamente se tornando titular.
Piorra iniciou sua trajetória no clube em 1923 e jogou até 1938. Disputou 133 partidas e marcou 168 gols. Foi fundamental nas conquistas dos títulos estaduais de 1926 e do primeiro tricampeonato (1928/29/30). No Campeonato Mineiro de 1933, foi o artilheiro do clube com 8 gols, um a mais que Alcides.
Nascido em Belo Horizonte, em 31 de maio de 1906, Piorra fez história no clube, participando de jogos importantes, como a inauguração do estádio do Barro Preto, na partida contra o Flamengo, e ajudando a conquistar os títulos de 1926, 1928, 1929 e 1930. Disputou 194 partidas e marcou 42 gols entre 1923 e 1933. Ele também serviu na Seleção Mineira em 1924, 1925, 1928, 1931 e 1933.
Carazzo
Fernando Carazo, nascido em La Coruña, Espanha, em 1904, chegou ao Palestra no final de 1927, vindo do futebol paulista. Foi o primeiro jogador espanhol a vestir a camisa do clube e participou da campanha do tricampeonato de 1928, 1929 e 1930, além de contribuir para o título de 1940.
Carazo marcou 44 gols e era conhecido por sua velocidade nas jogadas e nas chances de gol. Ele entrou para a história como o jogador estrangeiro com o maior número de gols no Palestra, sendo ultrapassado apenas em 2014 pelo boliviano Marcelo Moreno. Na década de 1980, Carazo foi homenageado pelo Cruzeiro em um evento que contou com a presença de outros ídolos, como Ninão e Piorra, durante a gestão de Benito Masci.
Em 2011, quando Montillo foi homenageado pelos seus 36 gols, um familiar de Carazo esteve presente na Arena do Jacaré e, em nome do espanhol, recebeu uma placa em homenagem aos seus 44 gols com a camisa palestrina. Fernando Carazo faleceu em Belo Horizonte, cidade que o acolheu e onde ele conquistou a glória máxima do futebol mineiro, em 1986, aos 82 anos.
A contribuição desses jogadores foi fundamental para a história do Palestra, que mais tarde se tornaria o Cruzeiro. Suas performances inspiraram gerações de torcedores e jogadores, e seus nomes permanecem gravados na memória do clube como ícones de uma era gloriosa. Cada um deles, com suas habilidades e dedicação, ajudou a construir a história e a grandeza do Cruzeiro, deixando um legado que perdura até hoje.



Carazzo

Carazzo

Piorra
Fontes Pesquisadas:
https://ludopedio.org.br, https://rsssfbrasil.com/, Jornais da época/ Livro Almanaque do Cruzeiro Esporte Clube, de Henrique Ribeiro.
- [Jornal Estado de Minas](https://www.em.com.br)
- [História do Cruzeiro Esporte Clube](https://www.cruzeiro.com.br)
https://ludopedio.org.br, https://rsssfbrasil.com/, Jornais da época/ Livro Almanaque do Cruzeiro Esporte Clube, de Henrique Ribeiro.
- [Jornal Estado de Minas](https://www.em.com.br)
- [História do Cruzeiro Esporte Clube](https://www.cruzeiro.com.br)