Um Caminho de Desafios, Superações e Taças

Em 1928, o mundo ainda estava se recuperando dos efeitos devastadores da Primeira Guerra Mundial. Os países buscavam estabilidade econômica e social, enquanto a iminência da Grande Depressão já começava a lançar suas sombras. Nesse cenário, houve esforços internacionais para prevenir novos conflitos, como a assinatura do Pacto Kellogg-Briand, também conhecido como Pacto de Paris, um tratado que buscava renunciar à guerra como instrumento de política nacional.

Em 7 de março de 1928, Belo Horizonte viu um marco na história da imprensa mineira com a estreia do jornal "Estado de Minas". A cidade, então com cerca de 111 mil habitantes, respirava os ares do modernismo e estava em plena expansão urbana.
A primeira sede do jornal, localizada na Avenida João Pinheiro, 267, tornou-se um ponto de encontro importante no centro da cidade.
A cobertura do jornal focava nos principais eventos e transformações da capital mineira.
A construção do primeiro parque de exposições no Prado, na Região Oeste, e a realização de um congresso comercial, industrial e agrícola foram destaques iniciais.
Nos dias seguintes, a expansão urbana continuou a ser tema central, refletindo o crescimento acelerado da cidade. A criação de novos bairros, como Venda Nova, e os planos para a construção de um grande aeroporto na Pampulha indicavam o desenvolvimento contínuo além dos limites da Avenida do Contorno, que antes demarcava os limites da cidade.
Esse período de expansão e modernização de Belo Horizonte, capturado pelo "Estado de Minas", sinalizava o crescimento da capital e a transformação de suas estruturas urbanas e sociais.
No campo dos esportes, os IX Jogos Olímpicos foram abertos em Amsterdã em 17 de maio, marcando um importante evento esportivo global e no cenário futebolístico brasileiro, o esporte começava a passar por transformações significativas. Até então amador, o esporte começou a sentir a necessidade de se profissionalizar para se sustentar. Esse período de transição ficou conhecido como "amadorismo marrom", onde os jogadores eram pagos de maneira informal para se dedicar apenas ao futebol, uma prática ainda proibida pelas federações. Clubes ajudavam atletas a conseguirem empregos ou os empregavam nas empresas de seus dirigentes, enquanto outras vezes, os rendimentos vinham das bancas de apostas, a prática era chamada de "bicho".​​​​​​​
No contexto desse período de transformação, o Palestra Itália de Minas Gerais, atual Cruzeiro Esporte Clube, destacava-se. Em 1928, após uma temporada ruim no ano anterior, o clube decidiu contratar um treinador, algo inédito em sua história. O escolhido foi Matturio Fabbi, um italiano ex-jogador do Palestra Itália de São Paulo. Com Fabbi, chegaram também novos jogadores, como o goleiro Gerando Cantinni e Carazzo, um espanhol que faria história com a camisa do clube.
O Palestra Itália iniciou 1928 de forma avassaladora. Com uma equipe formada por jogadores talentosos como Geraldo Cantinni, Nininho, Ninão, Armandinho, Piorra, Carazzo e Bengala, o time começou o ano goleando o América por 4 a 1 em um amistoso, com shows de Ninão e Bengala. O uniforme adotado no ano anterior e usado até 1931 era composto por camisa e meiões verde escuro e com calções brancos.
Preparando-se para a 14ª edição do Campeonato Citadino de Belo Horizonte, principal torneio de Minas Gerais, o Palestra Itália estava confiante. A fórmula de disputa do campeonato era em duas fases, turno e returno, no sistema de pontos corridos, onde a vitória valia 2 pontos e o empate 1 ponto. Além do Palestra, participaram do campeonato o Alves Nogueira Foot Ball Club (Sabará), América Futebol Clube, Clube Atlético Mineiro, Guarany Foot Ball Club, Palmeiras Foot Ball Club, Sete de Setembro Futebol Clube, Sport Club Calafate, Sport Club Syrio Horizontino e Villa Nova Atlético Clube.
O Palestra estreou em casa com goleada! No dia 08 de abril, 8 a 2 contra o Syrio Horizontino, com Ninão e Bengala marcando 3 gols cada e Zezinho mais 2 gols. Depois, no dia 06 de maio, venceu o Villa Nova por 3 a 1, com direito a mais uma apresentação impecável de Ninão, que marcou 3 gols. Ninão e Bengala já despontavam como os melhores jogadores daquele ano.

03 de junho - Palestra Itália 11x0 Calafate - Gols: Bengala (4), Zezinho, Ninão (6).

Em 17 de junho, o Palestra fez história ao aplicar a maior goleada do campeonato mineiro, vencendo o Alves Nogueira por 14 a 0, com Ninão marcando 10 gols.
08 de julho - Palestra Itália 9x1 Sete de Setembro - Gols: Zezinho (2), Ninão (3), Bengala (4); Ovídio
05 agosto - Palestra Itália 6x4 América - Gols: Ninão (4), Zezinho, Bengala; Teixeira, Satyro Taboada (2), Cunha
12 de agosto - Palestra Itália 11x1 Guarany - Gols: Bengala (4), Ninão (4), Zezinho (2), Nereu; Julio

02 de setembro - Palestra Itália 0x2 Atlético - Gols: Mário de Castro, Said


O primeiro turno terminou com o Palestra Itália em segundo lugar, com 1 ponto atrás do Atlético Mineiro.

11 de novembro - Palestra Itália 8x1 Alves Nogueira - Gols: Ninão (4), Bengala (4); Belém
25 de novembro - Palestra Itália 2x2 Sete de Setembro - Gols: Zezinho (2); não temos registros dos gols do Sete de Setembro.
02 de dezembro - Palestra Itália 6x1 Calafate - Gols: Bengala (2), Eduardo (gol contra), Ninão, Piorra, Zezinho; Lalau
09 de dezembro - América 1x2 Palestra Itália - Gols:  Canhoto; Bengala, Ninão
A disputa pelo título estava acirrada entre Palestra e Atlético, ambos com 21 pontos a quatro rodadas do fim do campeonato. Em 16 de dezembro, um jogo decisivo entre os dois times foi disputado no estádio do Palestra Itália, no Barro Preto, com o Atlético como mandante. Em uma partida emocionante, as equipes empataram em 2 a 2, com destaque para Ninão e Bengala.
23 de dezembro - Palestra Itália 11x1 Palmeiras-BH - Gols: Armandinho (2), Ninão (4), Bengala (4), Zezinho; Paulinho
30 de dezembro – o Palestra venceu o Guarany por WO.
No domingo, 6 de janeiro de 1929, o Palestra escalado de Geraldo; Nereu, Rizzo; Morganti, Osti, Nininho; Piorra, Ninão, Zezinho, Bengala, Armandinho, enfrentou o Villa Nova e venceu por 6 a 1, enquanto o Atlético empatou com o Alves Nogueira por 3 a 3. Com isso, o Palestra Itália se consagrou campeão antecipado com 28 pontos, celebrando seu segundo título e superando seus rivais.
A vitória foi comemorada com uma grande festa em Belo Horizonte, que se tornou a capital mais italiana do país. A diretoria do clube convidou a equipe do Alves Nogueira para participar das celebrações, em reconhecimento ao empate contra o Atlético que ajudou o Palestra a conquistar o título.
No entanto, o Atlético tentou anular o título do Palestra, alegando irregularidades na transferência de jogadores. Após investigações, a Confederação Brasileira de Futebol homologou o título do Palestra, desmascarando uma conspiração dos dirigentes atleticanos e do Corinthians para prejudicar o clube.
O Palestra terminou o campeonato de 1928 com 93 gols marcados, sendo 43 deles feitos por Ninão e 31 por Bengala. Foi um ano memorável para o clube, que se consolidou como uma das forças do futebol mineiro.
Ninão foi o artilheiro do campeonato com 43 gols marcados.​​​​​​​
Os Heróis de 1928: Bengala e Ninão
Em 1928, o Palestra Itália (hoje Cruzeiro Esporte Clube) brilhou no Campeonato Citadino de Belo Horizonte, um dos torneios mais importantes de Minas Gerais. Dois jogadores se destacaram e se tornaram lendas do clube: Bengala e Ninão.

Bengala: O Ponta Esquerda Incansável
Ítalo Fratezzi, conhecido como Bengala, chegou ao Palestra em 1925 e rapidamente se destacou. Em 1928, ele foi parte crucial do ataque mais prolífico da história dos campeonatos mineiros, que marcou incríveis 91 gols em uma única edição. Destes, 31 foram feitos por Bengala.
Bengala jogava como ponta esquerda e era conhecido por seu chute forte e preciso, sempre presente na área adversária. Sua habilidade lhe garantiu um lugar frequente na seleção mineira, representando o Palestra com orgulho. Ele era um líder dentro e fora de campo, muitas vezes assumindo a braçadeira de capitão. Bengala conquistou os campeonatos de 1928, 1929 e 1930, e seu impacto foi além do futebol: ele ajudou a criar o time de basquete do Palestra e jogou nas primeiras equipes, vencendo torneios e conquistando o vice-campeonato mineiro de 1934.
Durante sua carreira, Bengala disputou 257 partidas e marcou 168 gols pelo Palestra. Após encerrar sua carreira em 1938, ele se tornou treinador da equipe, deixando um legado duradouro no clube.

Ninão: O Tanque Imparável
João Fantoni, mais conhecido como Ninão, era um goleador nato e o maior ídolo da primeira década do Palestra Itália. Ele começou no clube em 1923 e rapidamente mostrou seu talento, marcando dois gols no jogo de inauguração do estádio do Palestra contra o Flamengo.
Em 1928, Ninão fez história ao marcar 10 gols em uma única partida contra o Alves Nogueira de Sabará, na vitória de 14 a 0, um recorde que ainda não foi superado. Durante o campeonato daquele ano, ele marcou 43 gols em 16 partidas, liderando o Palestra à vitória com 91 gols no total.
Ninão continuou a ser o artilheiro do time nos anos seguintes, com 33 gols em 1929 e 21 gols em 1930, ajudando o Palestra a conquistar o tricampeonato. Seu talento o levou à seleção mineira e, em 1931, ele se tornou o primeiro jogador de um clube brasileiro a ser contratado por um time europeu, a Lazio de Roma.
Na Itália, Ninão brilhou, marcando 39 gols e se tornando um dos principais jogadores da Lazio. Ele voltou ao Palestra em 1935, onde continuou a jogar até 1936. Com 167 gols, Ninão é o quinto maior artilheiro da história do Cruzeiro.
Ninão não era apenas um jogador talentoso, mas também uma figura importante na história do clube. Após encerrar sua carreira, ele serviu como treinador e presidente do conselho do Palestra, desempenhando um papel crucial na transição do nome do clube para Cruzeiro durante a Segunda Guerra Mundial, quando o governo obrigou o clube a mudar seu nome.

O Legado de Bengala e Ninão
Bengala e Ninão foram mais que jogadores; foram líderes e pioneiros que ajudaram a moldar a identidade do Palestra Itália. Seus feitos em campo e suas contribuições fora dele deixaram um legado duradouro. Eles são lembrados não apenas por seus gols e vitórias, mas também por seu amor e dedicação ao clube, que se tornaram parte integrante da rica história do Cruzeiro Esporte Clube.
Antônio Falci
Antônio Falci
Bengala
Bengala
João Fantoni
João Fantoni
João Fantoni
João Fantoni
Fontes Pesquisadas:
 https://ludopedio.org.br, https://rsssfbrasil.com/,  Jornais da época/ Livro Almanaque do Cruzeiro Esporte Clube, de Henrique Ribeiro.
- [Jornal Estado de Minas](https://www.em.com.br)
- [História do Cruzeiro Esporte Clube](https://www.cruzeiro.com.br)
- [IX Jogos Olímpicos de Amsterdã](https://www.olympic.org/amsterdam-1928)
- [Pacto Kellogg-Briand](https://history.state.gov/milestones/1921-1936/kellogg)
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